A poucos dias do encerramento do contrato da ViaBahia, que deixará oficialmente a administração das BRs 116 e 324 nesta quinta-feira (15), o deputado estadual Hassan Iossef (PP) – que representa as regiões de Jequié, Médio Rio de Contas e Vale do Jiquiriçá – criticou o modelo apresentado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para a nova concessão das rodovias. Em entrevista ao Panorama da Bahia, Hassan alertou para o risco de um novo fracasso na gestão das estradas federais do estado e classificou como “absurdo” o que foi proposto até agora.
“Nós já não aguentamos mais tudo isso que passamos durante os últimos 15 anos. Lutamos para tirar a ViaBahia, e o que nós não queremos, não precisamos e não vamos permitir é que daqui a cinco ou dez anos a gente olhe para trás e ainda sinta falta da ViaBahia”, declarou o parlamentar, em tom de revolta.
Uma das maiores preocupações levantadas por Hassan é o aumento do número de praças de pedágio. De acordo com o projeto apresentado pela ANTT durante as audiências públicas realizadas na Bahia, a quantidade de cabines de cobrança pode dobrar, passando de sete para 14 entre Salvador e a divisa com Minas Gerais. “Isso é um aumento de 100% e que nos causa espanto e apreensão. Além disso, os valores estimados para o pedágio poderiam chegar a R$ 25, o que é um verdadeiro absurdo para quem depende dessas estradas todos os dias”, criticou.
O deputado também denunciou a falta de divulgação e de convites formais para as sessões promovidas pela ANTT em Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista. “Nós não fomos convidados. Eu fui porque é uma pauta importante para o povo baiano e eu não poderia me ausentar. Mas é inadmissível que um tema com tanto impacto não tenha sido amplamente divulgado”, afirmou.
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A principal crítica de Hassan, no entanto, recai sobre o cronograma proposto para os investimentos na nova concessão. Ele afirma que o contrato prevê dois anos de arrecadação sem obrigações de obras reais imediatas. “A nova empresa começa a cobrar pedágio logo após a assinatura do contrato, mas só teria obrigação de começar os investimentos a partir do terceiro ano. Isso é inaceitável. A população vai pagar por melhorias que não estarão sendo feitas”, denunciou.
Hassan também destacou a falta de respostas da ANTT sobre a estimativa de arrecadação com o novo contrato, que poderia saltar de R$ 440 milhões – valor arrecadado atualmente pela ViaBahia – para R$ 2,5 bilhões. “Eu perguntei diretamente sobre esses números e não obtive resposta. Queremos clareza sobre isso, pois não podemos aceitar um contrato feito às pressas e sem transparência”, frisou.
Durante as audiências, prefeitos e lideranças regionais também manifestaram preocupações com os trechos perigosos que historicamente acumulam acidentes e mortes. Hassan citou os relatos do prefeito de Jequié, Zé Cocá (PP), que apontou a necessidade urgente de intervenções na Serra do Mutum, e da prefeita de Vitória da Conquista, Sheila Lemos (União Brasil), que destacou o chamado “trevo da morte”. “Esses pontos críticos precisam estar no topo da lista de prioridades da nova concessão. Não é só uma questão de conforto, é uma questão de vida”, ressaltou o deputado.
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A ANTT, por sua vez, afirma que o projeto da chamada “Rota 2 de Julho” prevê R$ 24 bilhões em investimentos ao longo de 30 anos. O plano inclui 356 quilômetros de duplicações, além de faixas adicionais, viadutos, passarelas e vias marginais. No entanto, para Hassan, promessas de longo prazo não justificam a ausência de melhorias nos primeiros anos do contrato.
“Nós queremos um cronograma claro, queremos saber quando e onde os investimentos vão começar. É preciso respeitar a Bahia e os baianos, ouvir os deputados estaduais, os prefeitos e a população. Não vamos permitir que esse novo contrato seja ainda pior que o anterior”, concluiu.
A última audiência pública promovida pela ANTT acontece no dia 16 de maio, em Brasília, em formato híbrido (presencial e virtual). A expectativa é que o edital definitivo seja publicado nos próximos meses, dando início ao processo de licitação. Enquanto isso, a gestão das BRs ficará sob responsabilidade da própria ANTT e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), com promessa de investimento emergencial de R$ 600 milhões até que a nova concessionária assuma as operações.
Assista à entrevista na íntegra: