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Artigo e Opinião

Manifesto: O Estado e a Megaoperação da Hipocrisia

Manifesto: O Estado e a Megaoperação da Hipocrisia

Foto: Divulgação

por Luiz Carlos Suíca

A megaoperação no Rio de Janeiro não foi um ato de justiça. Foi uma demonstração de poder – e de hipocrisia. Quando helicópteros sobrevoam as favelas e o som dos tiros ecoa pelas vielas, o Estado não está combatendo o crime. Está reafirmando que o crime é parte de sua própria estrutura. Porque se o crime é organizado, é porque o Estado também está dentro dele – e dele se alimenta.

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Os verdadeiros traficantes não estão nas favelas. Não são aqueles jovens negros e brancos, pobres, que empunham fuzis que nunca fabricaram, que vendem drogas que nunca produziram, que usam drones que nunca compraram. Alguém fornece tudo isso. Alguém lucra com isso. E esse alguém veste terno, mora em condomínio fechado, tem CPF limpo, empresa aberta e contrato com o poder público.


E quem consome as drogas que o Estado diz ter apreendido? Não são os corpos baleados nas vielas, nem as mães que enterram seus filhos no fim de semana. São os filhos e filhas da elite, são os consumidores de classe média e alta que moram a poucos quilômetros das favelas – os mesmos que exigem “segurança” e aplaudem a repressão. Porque o comércio de drogas só existe porque há quem compre. E quem compra, em sua maioria, é quem pode pagar caro pelas melhores drogas – importadas, puras, discretas.

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A favela nunca foi o problema. A favela foi o resultado. Resultado de uma história que começou quando a Lei Áurea foi assinada sem compromisso com o futuro dos libertos. Quando a Inglaterra pressionou o Brasil por razões econômicas, e o país apenas trocou a corrente de ferro pela corrente da exclusão.

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O negro liberto foi empurrado para longe do centro, para longe das escolas, das terras e das oportunidades. Foi aí que nasceram as favelas – não como espaços de crime, mas de sobrevivência. De resistência. De invenção da vida onde o Estado só ofereceu ausência.

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Os filhos da favela são filhos da escravidão que nunca acabou. Continuam sendo treinados não para o crime, mas para o extermínio. Recebem armas, não diplomas. São alvos, não cidadãos. E os que morrem nessas operações são, na verdade, vítimas de uma guerra programada — uma guerra de classe, de cor e de controle.

A megaoperação no Rio de Janeiro foi uma chacina, sim – uma operação política, pensada, calculada e legitimada por um discurso de “ordem” que serve à extrema-direita. Uma encenação que mascara o abandono, que esconde a ausência de políticas públicas, e que transforma o sofrimento do povo em espetáculo para as câmeras.

Mas é preciso dizer, em alto e bom som: Enquanto o Estado seguir tratando o pobre como inimigo, o crime continuará sendo o espelho do próprio sistema; enquanto o branco rico cheirar a cocaína que o preto pobre morre por vender, a hipocrisia continuará reinando; enquanto houver exclusão, haverá resistência; e enquanto houver resistência, haverá voz. Porque nós somos os que ficaram – e ainda assim, seguimos de pé.

 


Luiz Carlos Suíca é pré-candidato a deputado em 2026. É graduado em História pela Universidade Católica da Bahia. Foi vereador de Salvador por três mandatos pelo Partido dos Trabalhadores (PT), partido no qual está filiado há 33 anos. Ativista da causa social e racial, também é diretor do Sindilimp (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Limpeza Urbana e Terceirizada da Bahia). Em seu perfil no Instagram (@suica13), onde acumula 508 mil seguidores, Suíca faz uma abordagem sobre pautas relacionadas à dinâmica da sociedade.

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