Os artistas Fernanda Montenegro e Gilberto Gil, recém-empossados na Academia Brasileira de Letras, chegaram à ABL rompendo com um antigo padrão. Eles resolveram não encomendar seus fardões ao alfaiate oficial da Academia, que cobraria R$ 80 mil por traje.
Diógenes Cardoso, que desde 2005 confecciona os trajes para os novos imortais, produz as indumentárias com ramos de café bordados em fio de ouro sobre cambraia verde-oliva. Dentre outras coisas, faz parte dos muitos ritos pagar sem pedir desconto.
Montenegro entrou oficialmente para a Academia no dia 25 de março, e Gil, na última sexta (8). Ambos contrataram o costureiro profissional e premiado figurinista niteroiense Marcelo Pies, que cobrou R$ 30 mil por cada fardão, seguindo todos os padrões que a Academia impõe.
Até na hora de pagar a conta, Montenegro e Gil quebraram o protocolo. Apesar de o prefeito do Rio, Eduardo Paes, declarar publicamente que teria “o maior prazer” em bancar o traje para os dois, eles não aceitaram. “Não faz sentido onerar o poder público”, disseram.
Sobre o preço cobrado, Diógenes tem uma teoria que explicaria, pelo menos em parte, o valor quase três vezes menor cobrado por Pies. “O meu fardão tem fios de ouro. O dele, eu não sei”, insinua, aproveitando a deixa para informar que “Paulo Niemeyer recebe o dele amanhã”.
O figurinista que vestiu Fernanda Montenegro e Gilberto Gil na ABL não é exatamente um outsider no mundo dos acadêmicos. Em 2018, ele costurou o fardão com que seu marido, o poeta e ensaísta Antônio Cicero, compareceu à cerimônia de posse da cadeira 27, sucedendo Eduardo Portella.
Possíveis candidatos a novas vagas já o procuraram, interessados em usar um traje seu, mas Pies não tem interesse em investir neste nicho. “Fiz para pessoas próximas e para os meus amigos”, afirma. “O alfaiate indicado pela Academia é o Diógenes e ele faz um ótimo trabalho”, contemporiza.