Na nova edição do podcast AGentePod, o apresentador e ex-vereador Luiz Carlos Suíca (PT) recebeu a historiadora, doutora e escritora Cassi Coutinho, coordenadora de Culturas Identitárias da Secretaria de Cultura da Bahia. Durante a conversa, Cassi destacou sua origem periférica e a importância da educação e das políticas públicas para que mulheres negras como ela ocupem espaços de poder. “Eu sou fruto de investimento. Meu pai entendeu, ainda no movimento sindical, que a educação era um caminho para melhorar a vida dos filhos”, disse.
Ao tratar da diversidade cultural do estado, Suíca provocou a reflexão sobre quem consome e quem constrói essa cultura. Cassi reforçou que a Bahia é um “celeiro de culturas”, com 417 municípios e 27 territórios de identidade, repletos de manifestações únicas, como o Zambiapunga, o Bembé do Mercado e as Ganhadeiras de Itapuã. “Antes, o olhar era só para a cultura herdada dos europeus. Hoje, começamos a valorizar a produção de negros e indígenas, que sempre estiveram na base, mesmo invisibilizados”, pontuou.
Cassi defendeu que o fazer cultural deve ser reconhecido como trabalho e gerador de renda, especialmente quando vinculado ao turismo. “A gente gosta do que faz, mas também vive disso. Uma Festa de Reis, por exemplo, precisa de investimento para existir. Se não há apoio, essa cultura morre”, alertou. Suíca reforçou o papel das festas tradicionais na movimentação econômica de territórios como o Recôncavo e o Baixo Sul, lembrando que “não é o governo que faz a festa, é o povo que sustenta”.
Questionada sobre os desafios enfrentados pelos produtores culturais, Cassi destacou que ainda há preconceito e descaso com manifestações populares, especialmente as ligadas à cultura negra. “Sempre haverá um olhar marginalizado sobre o que é produzido por nós. Por isso, resistir é essencial”, afirmou. Ela lamentou a dificuldade que grupos culturais enfrentam para acessar recursos e editais públicos, e fez um apelo para que a juventude não abandone suas raízes diante das promessas da cultura importada e das redes sociais.
📲 Fique sabendo primeiro. Clique aqui e siga nosso canal no WhatsApp.
Durante a conversa, Suíca exaltou o envolvimento de Cassi com o Conselho Municipal de Política Cultural e sua atuação como militante do PT. Ela reafirmou a importância de ocupar espaços estratégicos, como conselhos e mídias digitais. “As redes sociais são ferramentas que precisam ser apropriadas por quem faz cultura, para divulgar, denunciar e dialogar”, pontuou. Eleita com a maior votação entre os conselheiros, concluiu: “Ali, eu não falo por mim, falo por todos que me elegeram. Sou a voz dos grupos que resistem e produzem cultura todos os dias”.
O livro
Cassi também falou sobre sua obra mais recente, fruto do doutorado, dedicada ao estudo dos povos ciganos no Brasil. Ela contou que o interesse surgiu após atuar na Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, em Brasília, quando foi designada para dialogar com comunidades ciganas. “Percebi que não podia trabalhar com um grupo sobre o qual eu sabia tão pouco e, pior, carregava estigmas como grande parte da sociedade”, explicou. A partir daí, mergulhou em arquivos da Bahia e de Minas Gerais e escreveu um livro que retrata as trajetórias e resistências de famílias ciganas, abordando a diversidade de etnias, línguas e culturas dentro desse povo historicamente marginalizado.
.

Cassi explicou que o acesso às comunidades ciganas só é possível com autorização das lideranças, e mesmo assim há resistência, fruto de anos de preconceito e abandono por parte do Estado. “Há um receio legítimo sobre como essas informações serão usadas”, afirmou. Segundo ela, o livro continua em circulação e será relançado em julho, durante o Encontro de Historiadores em Belo Horizonte. Nas redes sociais (@cassiladi), ela compartilha a agenda de lançamentos e convida o público a conhecer melhor a cultura cigana, que também luta por políticas públicas, cotas e representação. “A luta cigana também é por reconhecimento e direitos, e tenho orgulho de colaborar com esse processo”, concluiu.
Assista à entrevista completa: